Redação Enem: Como é corrigida e o que fazem os corretores anularem

Todos os anos, os professores que formarão parte da banca corretora da redação do Enem passam por um treinamento em que são definidos os critérios para corrigir os textos dos candidatos.

Há até pouco tempo, esse material era sigiloso, mas, de uns anos para cá, o Inep liberou o acesso a esses documentos. Isso é muito importante, pois saber como a prova é corrigida ajuda - e muito - o aluno na hora de elaborar seu texto.

Neste post, vamos ver em detalhes toda a grade de correção da redação do Enem e o que pode anulá-la. Acompanhe!

Correção da prova do Enem: como funciona

Antes de começar é importante ressaltar que o material de treinamento do Enem é atualizado todos os anos, porém as diretrizes seguem mais ou menos as mesmas linhas gerais.

Isso posto, vamos lembrar que a redação do Enem é corrigida com base em cinco competências, cada uma valendo 200 pontos. Cada uma delas é corrigida em uma escala que varia de 40 em 40 pontos.

Os corretores convertem essa escala para que ela fique de 0 a 5. Mas a conversão é simples: 1 vale 50 e 5 vale 200. Se um dia você vir que uma das competências da prova recebeu nota 140, isso significa que um corretor seu notas 120 (3) e outro, 160 (4).

Se a diferença entre as notas de dois corretores em uma competência for maior que um ponto (exemplo: 2 e 4 pontos para o mesmo critério), a prova é encaminhada para uma terceira correção.

Aviso: como o material divulgado é voltado para os corretores, vamos trabalhar com os valores de 0 a 5. Mas, como vimos, basta fazer a conversão.

Competência 1

Trata-se do domínio da língua portuguesa. São avaliados dois aspectos principais:

• Estrutura sintática: avalia se o candidato consegue construir frases claras e objetivas. Aqui valem aspectos como saber quando quebrar uma frase com ponto final ou conectar diferentes orações com vírgula.
• Desvios da norma padrão: podemos chamar de erros de português, como acentuação incorreta, problemas de concordância, ortografia, uso de termos coloquiais, entre outros.

A grade de correção do Enem busca sistematizar os tipos de problemas. Para esta primeira competência, podemos simplificar a escala de acordo com o domínio da linguagem:

• 0: desconhecimento
• 1: domínio precário
• 2: domínio insuficiente
• 3: domínio mediano
• 4: bom domínio
• 5: excelente domínio

Vamos entender as notas que os corretores podem dar de acordo com a relação entre os dois aspectos analisados:

• 0: inexistência de estrutura sintática
• 1: estrutura sintática deficitária e com muitos desvios.
• 2: estrutura sintática deficitária ou com muitos desvios.
• 3: estrutura sintática regular e alguns desvios.
• 4: estrutura sintática boa e com poucos desvios.
• 5: permite apenas uma falha sintática e dois desvios.

Competência 2

Avalia dois aspectos da redação: o tipo de texto (dissertativo-argumentativo) e a abordagem do tema.

Interessante notar que a grade desta competência não tem nota 0, pois se o candidato não seguir o tema proposto ou não escrever uma redação no gênero textual exigido, ele não zera apenas a competência, mas a redação inteira.

No entanto, o que mais interessa é uma segunda grade, que traz mais detalhes e nos ajuda a entender melhor o que é avaliado. acompanhe:

• 1: abordagem tangencial ao tema ou que não deixe claro o tipo textual.
• 2: abordagem completa do tema e, apesar das três partes da dissertação argumentativa estarem presentes, duas delas não foram suficientemente elaboradas.
• 3: abordagem completa do tema, uma parte do texto não elaborada o suficiente e problemas de repertório.
• 4: abordagem completa do tema, as três partes do texto bem elaboradas e repertório legitimado e pertinente, mas improdutivo.
• 5: abordagem completa do tema, as três partes do texto bem elaboradas e repertório legitimado, pertinente e produtivo.

Para entendermos melhor essa grade, precisamos entender os conceitos que o Enem usa em relação ao repertório. São eles:

• Repertório baseados nos textos motivadores: considerado fraco, como uma cópia de trecho dos textos ou com ideias baseadas somente neles.
• Repertório não legitimado: informação sem fonte.
• Repertório legitimado: argumentos com respaldo, como citações de autores ou especialistas, dados referenciados, músicas, filmes, estudos e pesquisas, entre outros.
• Repertório pertinente: refere-se ao uso do repertório.
• Repertório produtivo: quando é importante para a discussão feita e para o desenvolvimento da argumentação.

Competência 3

Esta é a competência mais difícil do Enem. Ela trata da seleção, relação, organização e interpretação das informações em defesa de um ponto de vista.

Para avaliar essas quatro capacidades, a grade estabelece:

• 0: informações não relacionadas ao tema.
• 1: informações pouco relacionadas ao tema ou sem defesa de ponto de vista.
• 2: informações relacionadas ao tema, mas desorganizadas, contraditórias ou limitadas aos textos motivadores.
• 3: informações relacionadas ao tema, mas pouco organizadas ou limitadas aos textos motivadores.
• 4: informações relacionadas ao tempo, organizadas e com indícios de autoria.
• 5: informações relacionadas ao tema, organizadas e com autoria.

Assim como acontece com as outras competências, temos uma grade mais específica, que ajuda a entender melhor o que é considerado para avaliar a redação.

Os critérios são relacionados ao projeto de texto, ou seja, o caminho argumentativo. No Enem, sugerimos seguir causa+causa ou causa+consequência.

Veja:

• 0: tangente ao tema e sem direção.
• 1: tangente ao tema e com direção ou abordagem sem direção.
• 2: projeto de texto com muitas falhas e com desenvolvimento falho das informações.
• 3: projeto de texto com algumas falhas e com o desenvolvimento de apenas algumas informações.
• 4: projeto de texto com poucas falhas e com o desenvolvimento da maior parte das informações.
• 5: projeto de texto estratégico e com o desenvolvimento completo das informações.

Competência 4

Esta competência trata da coesão textual. Vamos lembrar que a coesão envolve as palavras ou expressões utilizadas para "amarrar" as ideias do texto.

Existem dois mecanismos básicos de coesão:

• Substituição: utilizados para evitar a repetição de palavras ou expressões.
• Junção: utilizados para juntar frases ou partes das frases.

Nesse sentido, podemos perceber alguns erros que descontariam pontos da redação, como a repetição de palavras ou a falta, o uso errado e a pouca diversificação desses elementos.

Importante notar que os mecanismos de coesão devem estar presente não apenas entre os parágrafos, mas também dentro deles, conectando ideais e dando fluidez ao texto.

Devemos destacar também os chamados operadores argumentativos. São elementos de coesão que estabelecem uma relação lógica e criam uma espécie de hierarquia entre as ideias.

Exemplos:

Ficarei muito feliz. Entrarei na faculdade.

Ficarei muito feliz quando entrar na faculdade.

Ficarei muito feliz se entrar na faculdade.

Veja como o 'quando' e o 'se' fazem mais do que unir as ideias; eles oferecem um caminho argumentativo, dando uma noção de certeza e possibilidade, respectivamente.

Dito isso, vamos ver a grade relativa a esta competência. Vamos começar pela grade genérica:

• 0: não articula informações.
• 1: articula as partes do texto de forma precária.
• 2: articula as partes do texto de forma insuficiente.
• 3: articula as partes do texto de forma mediana.
• 4: articula as partes do texto com poucas inadequações.
• 5: articula bem as partes do texto.

Já a grade específica se refere especificamente à presença dos elementos de coesão

• 0: palavras e períodos desconexos e sem articulação.
• 1: presença rara.
• 2: presença pontual.
• 3: presença regular.
• 4: presença constante.
• 5: presença expressiva.

Vale apontar um erro grave que pode ocorrer nessa competência, que são os textos monoblocos. Trata-se daqueles redações redigidas em um único parágrafo. Caso isso aconteça, os corretores do Enem são instruídos a não dar nota acima de 2.

Competência 5

Avalia a proposta de intervenção. Esta é a competência mais fácil para tirar nota 200. No entanto, há alguns cuidados que devemos tomar para não perder pontos.

O Enem exige que a proposta de intervenção tenha cinco elementos válidos para ter nota máxima:

• Um agente: quem vai fazer algo.
• Uma ação: o que vai ser feito.
• Um meio: como vai ser feito.
• Um fim: para que vai ser feito.
• Detalhar ao menos um deles.

A grade específica trata justamente desses elementos.

• 0: ausência de proposta, desrespeito aos direitos humanos ou não relacionada ao assunto.
• 1: tangenciamento do tema ou presença de elementos nulos ou apenas um elemento válido.
• 2: dois elementos válidos.
• 3: três elementos válidos.
• 4: quatro elementos válidos.
• 5: cinco elementos válidos.

O Enem especifica o que são elementos não válidos:

• Agente nulo: são aqueles muito vagos, como 'alguém' ou 'uns'.
• Ação nula: são genéricas, como 'os obstáculos devem ser superados'.
• Meio nulo: indica uma postura, não a forma para implementar uma medida.
• Detalhamento nulo: quando é apenas um advérbio de lugar.
• A finalidade, se houver, nunca é considerada nula.

Importante: propostas de intervenção que tragam estruturas condicionais não receberão nota maior do que 2. É o caso de conclusões que tragam o 'se'. Exemplo: "se cada vez mais nós tivermos informações verdadeiras, estaremos mais equipados para tomar nossas decisões".

O que anula uma redação do Enem?

O Enem também disponibilizou os casos que podem zerar a redação - o que elimina suas chances de aprovação. São eles:

• Textos com menos de sete linhas.
• Prova assinada, pois não é permitida qualquer forma de identificação da redação.
• Presença de desenhos ou sinais gráficos, pois também podem ser elementos de identificação do candidato.
• Textos ilegíveis (não é sinônimo de letra feia).
• Redação em língua estrangeira.
• Cópia dos textos motivadores.
• Não seguir o tipo de texto seguido (dissertação argumentativa).
• Fuga do tema.

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