Imagine chegar no vestibular, abrir a folha de redação e se deparar com um tema que você não esperava ou que não faz a menor ideia do que se trata. Assustador, não?
Neste post, vamos ver algumas saídas para que você consiga desenvolver um texto a partir de um assunto sobre o qual você não sabe nada. Vamos focar nas redações da Fuvest e das provas da Vunesp, que são mais imprevisíveis. Acompanhe!
Como desenvolver uma redação sobre um tema que você não conhece?
Em anos anteriores, vestibulares como a Fuvest vieram com temas que assustaram muitos candidatos. Talvez o maior exemplo deles tenha sido "Descatracalização da vida".
Esses são assuntos para os quais a maioria dos candidatos não está preparada e sobre os quais é realmente difícil saber por onde começar. Mas tudo tem seu jeito.
Para ajudar você a desenvolver uma redação para um tema desse tipo, criamos nosso próprio exemplo: A incognoscibilidade da coisa em si. Sobre o que você escreveria?
Vamos ver um roteiro com as etapas necessárias para desenvolver um tema como esse:
Primeira etapa: ler o tema e as instruções.
Criamos um template semelhante ao da Fuvest, completo, com textos de apoio e tudo mais. Você pode acessá-lo aqui.
Veja as instruções da nossa redação:
Para escrever sobre esse tema, é importante grifar as partes mais importantes. Logo de cara, salta aos olhos o trecho "limites do conhecimento". Mais à frente, merece destaque também a parte "duvidar do conhecimento" e também "não ser possível conhecer a realidade".
Também uma ideia interessante, oposta a essas, sobre a "tentativa de conhecer, ou de organizar a realidade". Por último, aparece em destaque o tema da nossa redação: A incognoscibilidade da coisa em si.
Essas instruções vão servir como guia para a leitura dos textos de apoio. Como pudemos ver pelos trechos que destacamos, a ideia central parece estar em torno dos limites do conhecimento.
Segunda etapa: ler a coletânea e anotar as ideias centrais
Quando um vestibular trouxer um tema complicado como esse, a coletânea de textos de apoio certamente explicará o conceito por trás desse assunto. No nosso tema, isso aconteceu já no texto 1. Veja:
Ao ler o significado da palavra-chave do tema, já podemos pegar a ideia central, que tem a ver com cognição, isto é, compreensão ou entendimento.
Claro que nem todos têm esse conhecimento, mas analisando a etimologia da palavra, entendemos melhor o significado. Cognoscível vem do latim “cognocibillis”. Essa palavra é formada pelo sufixo "billis", que traz uma ideia de possibilidade, pelo prefixo "co" que significa "junto" e a raiz do verbo "gnoscere" que é o mesmo que "conhecer".
Assim, essa palavra significa algo como "aquilo que se pode conhecer com alguém". Existem outros termos que trazem radicais semelhantes, como "ignorar" ou "incógnito".
Com isso, a leitura do texto de apoio já nos deixa clara a ideia de conhecimento ou, usando da etimologia, da possibilidade ou não de se conhecer algo.
Veja agora o texto 2:
Repare nos trechos: "cada cousa é o que é" e "e quanto isso me basta". Ao ler esse poema, como tema em mente, podemos pensar na possibilidade de não ser necessário conhecer as coisas, mas simplesmente aceitá-las como elas são.
Observe agora o texto 3:
É muito comum que as provas tragam ao menos um elemento não verbal na coletânea. Para quem não conhece o autor, a maior parte das suas obras trata justamente de ilusões.
Veja que nessa gravura as pessoas sobem as escadas e sempre chegam no mesmo lugar. E isso não faz sentido. O que podemos tirar dessa imagem é que nossos sentidos podem enganar nossa percepção.
E isso pode nos levar a fazer algumas conexões, como com as ideias de René Descartes, que falava da ilusão dos sentidos na possibilidade de conhecer o mundo.
Ter familiaridade com essas ideias nos ajuda a entender a ilusão que temos ao ver alguma coisa e como nosso conhecimento pode ser ilusório.
Agora, o texto 4:
Repare na ideia central: "a maior parte dos sentimentos habita um terreno onde palavra alguma jamais pisou". No texto, a autora usa essa lógica para analisar um filme e nos traz que o raciocínio não dá conta de todos os sentimentos que temos nem de compreender o mundo à nossa volta.
Juntando essas ideias com o tema, vemos que chegamos ao conceito da incognoscibilidade, ou seja, da impossibilidade de se compreender tudo. No entanto, esse texto traz ainda um outro elemento importante: o fato de não termos palavras para alguns sentimentos ou não termos linguagem para definir certas coisas.
Há uma frase da autora Clarice Lispector que diz "liberdade é pouco, o que eu desejo ainda não tem nome". Nessa mesma linha da linguagem e do conhecimento, podemos lembrar do filósofo Wittgenstein e sua frase "os limites da minha linguagem são os limites do meu mundo".
E essa é a questão central no nosso tema: a linguagem é um limite para o conhecimento. Não sendo possível conhecer tudo, devemos pensar menos e agir mais, que é a ideia do texto 4.
Seguindo para o texto 5:
Esse texto é de um filósofo cético grego. Quando falamos em ceticismo, estamos nos referindo ao ato de não crer. É exatamente o que o texto dele traz.
Por fim, o texto 6:
Esse trecho trata da necessidade que temos de ordenar o mundo, compreendê-lo para poder transformá-lo. Isso nos leva, por exemplo, a pensar na ciência, que busca justamente isso: conhecer as coisas para transformá-las.
Percebeu como a leitura da coletânea ajuda e traz ideais que clareiam o tema, por mais estranho que ele possa parecer?
Terceira etapa: buscar outras informações
Após ler a coletânea, você deve buscar outras informações no seu repertório pessoal, ou seja, indo além dos textos de apoio. Para isso, tente trazer o tema para experiências próprias, com situações sobre as coisas que você já leu, se deparou ou passou.
Isso envolve também filmes, séries, músicas, livros e outras coisas que podem contribuir para você desenvolver esse tema.
Neste tema, por exemplo, podemos pensar no filme Matrix. Neste longa, as pessoas acreditam viver em uma sociedade como a nossa. Elas crêem conhecer o mundo, mas não fazem ideia de como ele funciona.
Também podemos ir para a filosofia e pensar no Mito da Caverna, em que vemos sombras que acreditamos ser a realidade. Isso tem relação com a ideia de não percebemos ou conhecermos a realidade como ela é.
Quarta etapa: a partir do tema, pensar em uma tese
Isso é fundamental para a sua redação. E lembre-se de que, quando falamos em tese, não se trata de mostrar o que está acontecendo, mas demonstrar a sua opinião sobre o que acontece.
Nesse tema, o que você acha? Não é possível conhecer as coisas em si? Ou é possível conhecê-las parcialmente? Ou, ainda, é possível conhecer ou compreender o mundo?
Veja que a tese é pessoal, isto é, não há certo ou errado. O que temos são ideias bem e mal argumentadas.
Note que estamos lidando com um tema complexo e que nem todo mundo vai ter uma bagagem tão ampla para discorrer sobre ele. Por isso, precisamos ser práticos: qual dessas ideias é a mais fácil para desenvolver na redação?
Quinta etapa: justifique sua opinião
Vamos supor que escolhemos a ideia intermediário, ou seja, de que é possível conhecer as coisas parcialmente. Note que as ideias que não são taxativas costumam ser as mais fáceis de trabalhar.
A partir disso, podemos, por exemplo, pensar que a ciência traz conhecimentos importantes sobre o mundo e cria coisas que melhoram a nossa vida. Por outro lado, há questões, como alguns sentimentos, para as quais não temos linguagem para descrevê-las.
Repare que essas ideias não foram tiradas do nada. A primeira, da ciência, foi baseada no texto 6, enquanto a outra é do texto 4.
Também podemos partir para o caminho de que não é possível conhecer a coisa em si, pois o que se conhece é sempre sua representação. O que está na nossa cabeça é a ideia das coisas, não as coisas em si. Elas são transformadas em uma linguagem e, como tal, limitada e incompleta.
Novamente, essas reflexões não foram tiradas do chapéu; elas estão no texto 4.
Seja qual for o caminho escolhido, é preciso que você pense no projeto, isto é, na organização das ideias antes de escrever a redação.
Para aprender mais
Para ainda mais detalhes, assista a esta aula no YouTube:
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